terça-feira, 14 de julho de 2009

Essa coisa que nos falta

Somos atualmente o país com o maior número de assassinatos no mundo. E se você sentiu um impulso de parar de ler por causa do peso do tema, por favor, resista porque o texto é na verdade sobre esse impulso.

Uma das maiores virtudes do brasileiro é a capacidade de adaptação às dificuldades. Nas artes, nos esportes, na iniciativa privada etc. Somos inquestionavelmente criativos. Ironicamente, no entanto, essa virtude é nosso maior defeito quando se trata de cidadania, uma vez que temos achado mil paliativos para nos adaptarmos à violência, mas não para efetivamente combatê-la. Como no futebol, driblamos o problema, contornamos a questão. Se estão atirando nas pessoas dentro dos carros, blindam-se os carros (os poucos que podem), se o ladrão quer levar a carteira, prepara-se uma carteira-estepe com algum dinheirinho e sem os documentos. Se naquela equina tem havido muitos assaltos, mudamos de caminho. Somos bons de drible. Mas é hora de encarar os fatos: ninguém dribla um AR-15 ou uma bala perdida.

Por isso as perdas neste país precisam começar a se tornar inaceitáveis, para inaceitável começar a se tornar a ausência de justiça e como consequência se tornar inaceitável a ausência de país. Só assim sairemos do estado de sítio pqra o estado de direito.

O ponto inicial é que você, que está lendo isso, como tantas outras notícias neste jornal, precisa parar de aceitar. Precisa começar a procurar, também em você, essa peça que nos falta individualmente para eliminarmos coletivamente essa lacuna que uns chamam de "matéria curta brasileira" e outros de "jeitinho brasileiro". Isso que, seja qual for o nome que se dê, nos auto-impingimos há gerações como um defeito congênito. Sejamos honestos: o inimigo não é só a violência. O inimigo maior é a nossa passividade e a de todos os que deveriam defender o interesse da justiça acima de seus próprios interesses. Justiça, palavra tão surrada no Brasil, que lembra hoje o contrário de sua própria definição.

Você que é mãe, pai ou filho precisa sair do papel confortável de cidadão-light. Precisa pressionar, cobrar e exigir do chamado poder público que se coloque também na linha de tiro.

O Brasil é um país grande, mas só pode ser um grande país se tiver isso que nos está faltando. Essa coisas que faz a diferença entre um rebanho e um povo. Porque um povo, como temos que ser, não aceita passivamente o próprio abate.

Segurança Pública, uma ação de todos nós.


-- Informe publicitário da empresa: neogamabbh
no Jornal do Brasil, do dia 7 de Outubro de 2003